terça-feira, 30 de dezembro de 2014

1.784 - A CASA QUE EU CONSTRUI

Autor: Erivaldo Alencar.

Letra: 26 01 2014 e música:


No natal fui visitar
A terra que eu nasci
Totalmente abandonada
O lugar onde vivi
Nem sequer existe mais
A casa que eu construí.

A casa onde nasci
Há muito tempo caiu
A casa onde cresci
Do mapa também sumiu
A casa que nasceu meu pai
Abandonada ruiu.

A um ano atrás eu fui
Visitar meu velho lar
A casa que eu construí
Estava no mesmo lugar
Mas este ano o novo
Dono mandou derrubar.

Grande foi minha surpresa
Ao chegar aquele local
Ver a casa demolida
Somente pra fazer o mal
Fazendo-me desta forma
Ter um infeliz natal.

A casa foi demolida
E toda telha levada
Toda madeira também
Da casa foi retirada
Só a parede continua
Mas está deteriorada.

O lugar onde nasci
De gente está deserto
As casas todas caíram
Não mora ninguém por perto
De todos natais foi este
O mais infeliz por certo.


 Francisco Erivaldo Pereira Alencar.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

1.783 - ARLINDO PEREIRA DE ALENCAR

Autor: Erivaldo Alencar.

Letra; 25 12 2014 e música:


Neste cordel vou narrar
Uma história verdadeira
A biografia completa
Duma pessoa hospitaleira
Nasceu em Acopiara
Nesta nação brasileira.

Eu vou falar de Arlindo
Pereira de Alencar
Um cearense bravio
Cedo ele foi trabalhar
Para ajudar aos seus pais
A os seus irmão criar.

Sua história eu conheço
Pois ele é meu irmão
É filho de Julio Aires
O segundo filho então
Sua mãe Maria de Lourdes
Mulher de bom coração.

Arlindo Alencar nasceu
Dia dez de fevereiro
Mil novecentos e cinquenta
Lá no sítio Comboeiro
Distrito de São Paulinho
Neste torrão brasileiro.

Ele era inteligente
Um menino introvertido
Educado pelos pais
Era muito divertido
Obediente aos seus pais
E das meninas querido.

Devido não ter escolas
Muito pouco estudou
Com quatro meses de aulas
Ele se alfabetizou
Foram quatro professoras
Que a ler o ensinou.

Nós somos quinze irmãos
Erivaldo foi o primeiro
Arlindo veio em segundo
E Lúcia veio em terceiro
Eunice e Manoel
Nasceram no Comboeiro.

Edileuza e Neviwton
Em seguida a Espedita
Aparecida e Fátima
Mas antes nasceu a Rita
Corrinha é caçula
Da primeira prole descrita.

Da núpcias com Creuzimar
Veio Cherline e Juliana
O último foi Julio César
Grande família bacana
Embora pobres fazemos
Parte da raça humana.

No ano cinquenta e oito
Papai começou cantar
E na frente de serviço
O mesmo foi trabalhar
Deixando eu e Arlindo
Pra conta da roça tomar.

O Arlindo sempre foi
Menino astucioso
Criativo e direito
Um menino respeitoso
Cumpridor dos seu ofícios
Honesto e cuidadoso.

Ele com dez, eu com onze.
Tomamos conta do roçado
Buscava água no açude
Cortava ração pro gado
Lidava com as ovelhas
Tanto a pé como montado.

Sabia se defender
Quando por acaso errava
Pra se livrar duma surra
Boa desculpa inventava
Mesmo crendo ser mentira
Nosso pai o perdoava.

Em uma certa manhã
Eu e ele fomos caçar
Levamos o Neviwton
Pra alguma caça matar
Deu uma hora da tarde
Sem nós nada encontrar.

Paramos pra descansar
Em um pau ceco estirado
Era um pau muito grosso
Há muito tempo cortado
Tendo resistido ao fogo
Ficou ali no chão deitado.

O nosso irmão Neviwton
Curioso levantou
Foi à metade do pau
Para os dois lados olhou
Tu sabes que pau é este?
Pro Arlindo perguntou.

Arlindo diz é angico
Neviwton diz não é não
Arlindo diz veja o tronco
Está todo aberto então
Assim começou a teima
Sem chegar a conclusão.

Neviwton botou a mão
Na metade da madeira
Olhou para os dois lados
Estendeu a mão inteira
Pra lá pode ser angico
Mas pra cá é aroeira.

Certa vez papai mandou
Arlindo olhar um cercado
Ele preparou as trailhas
E foi mui bem equipado
De facão, foice e revólver.
Arlindo foi bem armado.

Arlindo seguiu a pé
Como herói desbravador
Quebrou o chapéu na testa
Sem esboçar qualquer temor
Nos confins das terras tinha
Um cancelão no corredor.

Ao entrar no corredor
Ele avistou um veado
Que ao vê-lo se aproximar
Assoprou muito assustado
Disse consigo vou pegá-lo
E correu atrás do danado.

Ao chegar ao cancelão
O mesmo tava fechado
Sem ter por onde passar
Veado ficou acuado
E Arlindo disse eu hoje
Como carne de veado.

Ele sacou o revólver
No veado atirou
O veado muito arisco
Pra o outro lado pulou
Arlindo atirou de novo
Pela segunda vez errou.

Cada vez que atirava
O bicho pulava de lado
Usou toda munição
Com revólver descarregado
Com raiva pegou a arma
E jogou sobre o veado.

Ele de facão na mão
Vou matar você agora
Partiu pra cima do bicho
Mas naquela mesma hora
O veado deu um berro
Torceu o rabo e foi embora.

Outra vez papai mandou
Arlindo olhar o roçado
De facão foice e revólver
O Arlindo foi armado
De botina e gibão
E chapéu de couro quebrado.

Também levou um bornó
E espingarda municiada
Ele foi pela manhã
Cumprir mais uma jornada
Depois de rever as cercas
Ele chegou à estrada.

O jovem Toínho Carlos
Que por lá ia passando
Quando avistou o Arlindo
Com medo ficou pensando
Isto é um cangaceiro
Que está me assombrando.

Toínho com tanto medo
Saiu a toda carreira
E se valendo dos santos
Subia e descia ladeira
Só parou quando chegou
Na casa de Zé Ferreira.

Zé Ferreira quando o viu
Começou a perguntar
O que foi que aconteceu
Pra fazer você cansar
Ele com o corpo tremendo
Começou assim falar:

Eu vi ai na estrada
Um cabra de Lampião
Chapéu quebrado na testa
De botina e gibão
De espingarda e revólver
Roçadeira e facão.

Enquanto ele falava
Arlindo já foi chegando
Toínho disse olhe ai
É ele que vai passando
Tenho que me esconder
Ele está me procurando.

Zè Ferreira disse Toínho
Ele não é cangaceiro
Ele ai é o Arlindo
Não é nenhum desordeiro
Filho do compadre Julio
Um menino presepeiro.

Certo dia ele foi
Pra cidade passear
Lá ele viu um fotógrafo
Ficou a observar
Disse pra seu pai eu quero
Aprender fotografar.

Papai comprou uma máquina
Deu pra ele de presente
Uma máquina lambe lambe
O deixou muito contente
E disse com esta máquina
Vou tirar foto de gente.

Papai falou com Besouro
Fotógrafo da região
Para ensinar os ofícios
Do curso lição por lição
Ele aprendeu, mas jamais,
Exerceu a profissão.

Inda na adolescência
Começou a namorar
Mui querido das meninas
Mas nada de se casar
Ele foi jovem festeiro
E gostava de dançar.

Arlindo foi estudar
Na escola da região
Namorou a professora
Formou uma confusão
Os pais dela não queriam
A sua aproximação.

Levaram ela pra Lapa
Pra casa de um parente
Sem temer as conseqüências
Ele deu uma de valente
Foi namorar a professora
Lá na casa dessa gente.

Certa noite ele vinha
Da casa da namorada
Montado em seu cavalo
Mui feliz pela estrada
Com um revolver na cinta
Numa noite enluarada.

Ao se aproximar da mata
Ao final do corredor
Num terreno alto e plano
Num cavalo machador
Próximo duma cancela
Passou por um dissabor.

Ele viu um bicho preto
Pular bem na sua frente
Sem saber do que tratava
Era um ser repelente
Ele sentiu os cabelos
Arrepiar de repente.

Talvez maior que um jegue
Partiu para lhe pegar
Ele sacou o revólver
Começou a atirar
O bicho pulou de lado
Mas continuou atacar.

Ele apertou o gatilho
Novo disparo foi feito
O bicho foi pro outro lado
Num pulo rápido perfeito
Saiu do lado esquerdo
E foi pro lado direito.

Mas o bicho não parou
Continuou atacar
Pulava dum lado pra outro
E Arlindo sempre atirar
Passou momentos difíceis
Sem o bicho identificar.

Mas ao chegar à cancela
O fantasma foi embora
Tremendo de medo passa
A cancela sem demora
Com o revólver na mão corta
O cavalo na espora.

Nós que estávamos em casa
Ouvimos o tiroteio
Sem saber o ocorrido
O esperava com receio
Sem nada poder fazer
Naquele momento feio.

Logo ouvimos o tropel
Do cavalo que corria
Mamãe respirou profundo
Pondo fim sua agonia
Abrimos a porta e fomos
Recebê-lo com alegria.

Papai perguntou Arlindo
O que foi que aconteceu?
Por acaso você sabe
Quantos tiros você deu
Ele disse papai foi
Um bicho que apareceu.

Mas eu só dei dois tiros
E o bicho foi embora
Não estamos machucados
Graças a Nossa Senhora
Papai disse Arlindo eu quero
Faça-me um favor agora.

Disse que só deu dois tiros
Esta conversa não me cala
Quantas balas estão intactas
Por favor, depressa fala.
Com medo ele deu seis tiros
Não restou nenhuma bala.

Arlindo também foi poeta
Nenhum poema escreveu
Cantava repente na roça
Com nossos amigos e eu
Ele não foi cantador
Tocar viola aprendeu.

Mil novecentos e setenta
Veio morar na cidade
Pôs uma banca na feira
Cumpriu a sua vontade
Depois se estabeleceu
E alcançou prosperidade.

Em sua banca vendia
Festejos pra toda gente
Em uma tarde junina
Que o sol tava muito quente
Com o calor do sol as bombas
Explodiram de repente

Ele casou com Anilta
Em dizer não me engano
Dela nasceram três filhos
Primeiro foi Cristiano
Arlene depois Sidnei
Conforme traçado o plano

Depois que saiu da feira
Foi pra um prédio alugado
Depois foi para um ponto
Na esquina do mercado
Negociava com feirantes
Dando dinheiro emprestado.

Em um consórcio dum fusca
Arlindo se inscreveu
Com apenas quatro parcelas
O fusca ele recebeu
Pegou o carro e trocou
No prédio do Eliseu.

Ele mudou pra o prédio
E seu comércio prosperou
O prédio de João Pereira
Arlindo também comprou
O outro prédio Eliseu
Ele também negociou.

Ele ampliou o prédio
E ergueu um grande armazém
No atacado e no varejo
Arlindo foi muito além
Muitos prédios na cidade
Ele adquiriu também.

Já tinhas vários depósitos
De sua propriedade
Cheios de mercadorias
Espalhados na cidade
Tudo comprado a vista
Dentro da legalidade.

Tinha vários funcionários
E a todos pagava bem
Em dia com o confisco
E não devia a ninguém
Foi um homem de negócio
Da sociedade também.

Tinha vários funcionários
Uma grande freguesia
Crédito em todo canto
E não tinha um só dia
Pra ele não receber
Carreta de mercadoria.

Com o transcorrer do tempo
Começou a dar errado
Perseguido pela fazenda
Constantemente multado
Deixou de emprestar dinheiro
Para tomar emprestado.

Tudo passou dar errado
Até acidentes sofreu
Uma de suas filhas num
Acidente quase morreu
Ele saiu machucado
Enquanto o carro perdeu.

As vendas diminuíram
E as contas atrasaram
Muitos dos seus clientes
Os fiados não pagaram
E com isso seus credores
Os seus créditos cortaram.

Vendo a própria ruína
Sem ter pra onde correr
Passou a trabalhar mais
E a fumar e beber
Muitas vezes foi roubado
Sem puder se proteger.

Com promessas de empréstimos
A todos os bancos pagou
Foi fazer novos empréstimos
O seu fiador se negou
Os bancos se combinaram
As portas pra ele fechou.

Sem empréstimos bancários
Piorou a situação
E sem pagar agiotas
Começou a confusão
Cobranças com ameaças
Passou a receber então.

Desfez-se de vários prédios
Pra algumas contas pagar
Sobre ameaças de morte
Viu seu comércio arruinar
Sem receber os fiados
Começou mandar cobrar.

Gente mal intencionada
Fingindo lhe ajudar
Deixe tudo vá embora
Noutro lugar começar
Se você não for embora
Os caras vão te matar.

Ele se desesperou
O pouco que tinha levou
Despediu-se de papai
E um transporte pegou
Foi para Minas Gerais
Em Sete Lagoas chegou.

Naquela cidade estranha
Ele se estabeleceu
O dinheiro era pouco
Logo desapareceu
Pra maior complicação
Arlindo adoeceu.

Passou por várias cirurgias
Uma perna amputou
Doente e sem dinheiro
Por maus momentos passou
Água, luz e aluguel.
Sem dinheiro atrasou.

Por Corrinha e Espedita
Arlindo foi socorrido
Rita também ajudou
Mas ele desiludido
Voltou em dois mil e nove
Para o Ceará querido.

Ainda em Sete Lagoas
Buscou um advogado
Tentou se aposentar
Infelizmente negado
Depois de muito tentar
Conseguiu ser amparado.

Ao voltar pra sua terra
Da Anilta divorciou
Antes de ser amparado
Com Marlúcia se casou
Com as filhas Bianca e Ianca
Ele nos presenteou

Antes de ser amparado
Arlindo foi trabalhar
Lá no Mercadinho Aires
Pra puder se sustentar
Doente foi pra Fortaleza
Pra sua saúde cuidar.

No Hospital de Messejana
Arlindo foi internado
Com um câncer nos pulmões
Conforme foi constatado
E devido a gravidade
Ele foi desenganado.

Em dezoito de abril
Em Fortaleza faleceu
Seu corpo foi enterrado
Na cidade onde nasceu
Só tinha sessenta e quatro
Anos quando ele morreu.

Francisco Erivaldo Pereira Alencar. 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

1.782 - A CULTURA DE ACOPIARA ESTAR DE MAL A PIOR

Autor: Erivaldo Alencar.

Letra: 22 12 2014 e música:


A cultura de Acopiara
Estar de mal a pior
Nem mesmo quem faz cultura.
Quer vê-la ficar melhor
Do jeito que a coisa vai
Inda vai ficar menor.

Não estou falando mal
Estou narrando à verdade
Quase não há mais cultura
Aqui na minha cidade
Do que chamamos de cultura
Hoje só resta saudade.

Cultura é sabedoria
É arte é educação
É ciência é lazer
É confraternização
É memória é história
Do povo duma região.

As duplas de emboladores
Não há mais em Acopiara
Até mesmo os glosadores
Aqui é espécie rara
O contador de histórias
Sumiu com o pau-de-arara.

A festa do maneiro pau
Há muito tempo morreu
O folclore acopiarense
Também desapareceu
As brincadeiras de rodas
Também se escafedeu.

O cantador de viola
Também tá em extinção
As cantorias são raras
Pouquíssimas pessoas vão
Não se ver mais cantador
Perambulando no sertão.

As festas de são Gonçalo
Tá difícil de se ver
O verdadeiro reisado
Deixou de acontecer
Até mesmo os caretas
Mudou a forma de ser.

Nas festas de são João
Não tem mais o milho assado
Nem canjica, nem pamonha.
Nem o jerimum sapecado
Sem pulador de fogueira
São João é desanimado.

Benzedor e benzedeira
Estão desaparecendo
O contador de anedotas
Também não estou mais vendo
Os escritores também
Não estão mais escrevendo.

Os cantadores daqui
Vivem em desunião
Os poetas não se entendem
Virou baderna e confusão
O músico da minha terra
Também tá em extinção.

A arte cênica também
Praticamente morreu
O Fetac de Acopiara
Nunca mais aconteceu
Coitada da arte plástica
Capengou e faleceu.

A memória desta terra
Anda pela mesma sina
A estação ferroviária
Encontra-se em ruína
O prédio da prefeitura
Passou por mesma chacina.

A primeira casa erguida
Na Terra do Lavrador
Só existe o retrato
No arquivo dum escritor
Também o Circo Operário
Mudou de função e cor.

Desde a primeira gestão
Nunca entrou um gestor
Que gostasse de esporte
E a cultura desse valor
Nem esporte nem cultura
Dar voto de eleitor.

Um povo que não tem arte
É um povo sem memória
E um povo sem cultura
É um povo sem história
Povo sem educação
É um povo sem vitória

Francisco Erivaldo Pereira Alencar.